Ora era pássaro
Para, em seguida, tornar-me verme
E rastejar,
Soterrar-me sob grossas e pesadas camadas de lama e podridão.
Cada vôo tinha o gosto de uma liberdade quase doentia,
Obscena,
Com longas asas de cera.
Logo convertia-se em mergulho
Rápido, vertiginoso, agudo
E sentia o solo aproximar-se
Envolver-me, abraçar-me,
Sufocar-me.
E lá permanecia, na escuridão, por longos e temerosos séculos.
Havia em mim algo de podre – por dentro
Que me fazia tão densa,
Tão pesada,
Que nenhum vento era capaz de me manter no céu.
Logo o sol derretia a cera e me fazia tombar.
Sinto-me agora
Em vôo livre – algo que conheço bem de outras aventuras
E me assusta, me faz medo, me deixa apreensiva,
Expectante.
Penso no mergulho agudo nas profundezas do abismo.
E, quanto mais demoro a despencar,
Mais me dividem os pensamentos:
Esperança
De estar voando tão segura que o solo não me alcance mais
E medo
Do tamanho da queda
Tanto mais alto eu flutuo.
DePrê =(
Dec 17, 2010 - 6:25 a. m.
Nenhum comentário:
Postar um comentário