terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Efeito colateral


Ora era pássaro
Para, em seguida, tornar-me verme
E rastejar,
Soterrar-me sob grossas e pesadas camadas de lama e podridão.
Cada vôo tinha o gosto de uma liberdade quase doentia,
Obscena,
Com longas asas de cera.

Logo convertia-se em mergulho
Rápido, vertiginoso, agudo
E sentia o solo aproximar-se
Envolver-me, abraçar-me,
Sufocar-me.

E lá permanecia, na escuridão, por longos e temerosos séculos.

Havia em mim algo de podre – por dentro
Que me fazia tão densa,
Tão pesada,
Que nenhum vento era capaz de me manter no céu.

Logo o sol derretia a cera e me fazia tombar.

Sinto-me agora
Em vôo livre – algo que conheço bem de outras aventuras
E me assusta, me faz medo, me deixa apreensiva,
Expectante.
Penso no mergulho agudo nas profundezas do abismo.

E, quanto mais demoro a despencar,
Mais me dividem os pensamentos:
Esperança
De estar voando tão segura que o solo não me alcance mais
E medo
Do tamanho da queda
Tanto mais alto eu flutuo.

DePrê =(
Dec 17, 2010  - 6:25 a. m.

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