segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cirurgia

Eu queria que  existisse alguém, em algum lugar, que tivesse o conhecimento de uma medicina qualquer que o permitisse abrir meu peito com um estilete afiado e preciso, para, com suas mãos hábeis, tirar de dentro de mim essa angústia que me sufoca...
Queria que houvesse um jeito de curar a dor, uma mágica, uma varinha de condão, um colibri divino, qualquer coisa que arrancasse de mim, para sempre, esse desejo de não ser...
Queria encontrar um pensamento flutuando sobre minha cabeça, que eu pudesse puxar para dentro dela, e que a fizesse mais lúcida, menos submissa aos caprichos da tristeza...
Gostaria de acreditar que uma planta, um chá, um remédio, uma beberagem qualquer fosse suficiente para acalmar meu pranto...
Sinto-me só.  Como em muitos outros momentos semelhantes, ninguém é capaz de me fazer companhia, pois habito um espaço em que só eu posso entrar: uma rua escura, fria, úmida, triste, sem nascer do sol, sem estrelas à noite, sem pássaros, nem borboletas.
Estou mergulhada na escuridão. Nem minha voz faz eco, nada ressoa, nem um único som, nada...
Minha respiração está fraca, sem vontade de encher os pulmões com ar, sem querer alimentar meus pensamentos.  Só queria um desmaio, um desacordar, uma morte suave e indolor.  Algo que me libertasse definitivamente.  Nada mais.
Agora entendo Hamlet, na raiz da palavra:  “Ser ou não ser?”
No fundo, ele sabia a resposta.
No fundo, todos nós sabemos.
Mas, somos tão covardes para admitir a realidade dolorosa, quanto para nos agarrar à vida; somos tão covardes uns, por não verbalizarem as verdadeiras vontades, quanto outros, por desistirem da luta e se entregarem às incertezas da inexistência.
Queria uma medicina, uma sabedoria, uma benzedura, qualquer coisa que tivesse o poder de rasgar minha pele, afastar meus ossos e arrancar de dentro de mim o que me envenena a alma...
Fico só na querência.  Bem-me-quer, mal-me-quer.  Sem escolhas, sem pétalas.
E, atormentada pelo que não escolhi, vou derramando lágrimas inúteis – elas não escoariam nunca a tristeza toda que eu carrego, nem se eu chorasse pelo resto dos meus dias.
Estaria eu fadada à melancolia?
Talvez.
Afinal, a medicina dos homens ainda não usa bisturi que possa cortar a alma!

DePrê  =(
Nov 22, 2010

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